sábado, 10 de outubro de 2009

Christine Fernandes diz que mudou a sua visão sobre a morte depois de 'Viver a vida'

"Faz parte do saber viver saber que você vai morrer. Ficar ocultando, se enganando, não é uma forma saudável de se viver"

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RIO - Corte, sutura, esvaziamento ganglionar. As palavrinhas técnicas estão na ponta da língua da atriz Christine Fernandes, que fez um intenso laboratório com os profissionais do Instituto Nacional do Câncer (Inca) para interpretar a médica Ariane em "Viver a vida". Christine passou longas tardes na unidade IV do Hospital do Câncer, em Vila Isabel, conferindo in loco como é a rotina dos pacientes em estado terminal. Muita tristeza? Nada disso. Ela saiu de lá revigorada, amiga das médicas e com um bocado de ensinamentos para a sua vida. Não à toa, é através de sua personagem que Manoel Carlos vai apresentar ao público a chamada medicina paliativa.

- Até então, não conhecia esse tema, que no Brasil ainda não é uma especialização, é uma área da medicina. Sabia apenas sobre histórias de parentes de amigos que descobriam um câncer e era aquele drama: a pessoa é operada à exaustão, não resiste e morre. Aprendi que existe um momento de parar com os tratamentos, quando não existe possibilidade de cura. Por incrível que pareça, há chance de se prolongar a vida e de o paciente ter qualidade de vida. É um período importante, onde as pessoas conseguem fechar os seus processos, resolver pendências com as suas famílias, entender e aceitar a morte - acredita Christine.

No folhetim, Ariane é uma médica em início de carreira que faz o seu primeiro diagnóstico de câncer. Ela vai operar Marta (Gisele Reiman) com sucesso e a paciente começará a quimioterapia. A família de Marta fica, então, imensamente agradecida pela maneira como a médica está cuidando dela - aí entram os cuidados paliativos. Tudo vai muito bem até que Ariane, uma jovem viúva, acaba se envolvendo com Leo (Leonardo Machado), justamente o marido de Marta. Parece que Lívia (Isabel Mello), a filha do casal, não vai gostar nadinha da história. Polêmica à vista:

- Não sei exatamente se isso será antes, durante ou depois do tratamento, mas suscita uma questão. Existe uma crise ética com o envolvimento da médica com o marido da paciente. Pode ser considerado antiético, mas como você controla os alcances do seu coração? - indaga a atriz.

Christine recebe a Revista da TV no aprazível jardim de sua casa, no Itanhangá. As duas cadelas da família - a golden retriever Mia e a dog alemão Riza - fazem parte da conversa e logo, logo viram o centro das atenções e coadjuvantes de luxo na sessão de fotos. Riza, de 12 anos, está velhinha. Christine já tinha decido sacrificar o animal, que estava sofrendo demais com a fraqueza das pernas traseiras e com o câncer de pele, mas mudou de ideia após viver as novas experiências no hospital.

- Riza está velha toda vida. A cova dela estava feita para o domingo passado, mas resolvi botar no papel os prós e os contras. Estava muito difícil sacrificar. Amo as minhas cachorras, a Riza é de uma burrice adorável e resolvi dar uma chance para ela. A gente tem que cuidar dos nossos. Meu dever agora é cuidar dela enquanto a felicidade estiver maior do que o sofrimento - pondera.

Tanto na tela da TV quanto na vida real, como se pode notar, Christine Fernandes está encarando a morte com outros olhos.

- O processo de morte é sempre tratado como um tabu, como um dia talvez o sexo já foi. Estou trazendo novos olhares para a minha própria vida. Os médicos que trabalham com esses pacientes terminais não fazem planos a longo prazo, pensam a curto prazo. Não existe um dia, é o agora. É uma sabedoria. Faz parte do saber viver saber que você vai morrer. Ficar ocultando, se enganando, não é uma forma saudável de se viver - conclui.

O viver a vida de Christine está focado nos simples momentos do dia a dia, principalmente nos acompanhados de Pedro, de 7 anos, seu filho com o ator Floriano Peixoto. Ao lado do menino, ela não se intimida nem em fazer embaixadinhas:

- Quando eu jogava vôlei, dos meus 9 aos 20 anos, aquecia fazendo embaixadinha. Jogo futebol, sou Flamengo, vou ao Maracanã. Sou muito bofinho - define-se.

Christine não é do tipo "rata de academia". Ela mantém a forma nas aulas de boxe tailândes.

- Testo a minha agressividade. Vou com o pijama com que acordei, chuto o saco, só não entro em combate para não me machucar - explica.

A moça ainda ostenta cicatrizes no joelho, herança dos tempos de boleira. Entre os esportes e as novelas, importantes capítulos da vida da atriz nascida em Chicago foram dedicados à carreira de modelo. Como o seu 1,71m não estava à altura do time de voleibol, precisava mudar de ares e resolveu se inscrever em um curso de modelo, ministrado pela atriz Silvia Pfeiffer.

- Meu primeiro trabalho como modelo foi em 1987, um desfile da Company! Até então, não tinha nem um batom - recorda, aos risos.

Do desfile da loja carioca, Christine decolou para as passarelas de Tóquio.

- Mas eu queria algo mais ativo. Sempre quis ser cantora, tipo a Madonna, ou ter uma banda de rock. - conta. - Como modelo, também fiz comerciais e curtas nos EUA e, assim, fui tentando achar o meu lugar. Quando voltei ao Brasil, a Globo me chamou para fazer a Oficina de Atores.

Sua estreia nas novelas, em 1995, foi como a Marininha de "História de amor", novela de Manoel Carlos. "Viver a vida" é o seu terceiro folhetim de Maneco - em 2006 teve "Páginas da vida".

- Christine já nasceu uma revelação de talento. Em "História de amor", apesar de aparição pequena, chamou atenção por ser muito expressiva e terrivelmente linda, o que é até hoje. Evoluiu muito, estudou, viu muito teatro, enfim: é atriz com acabamento, com ferramentas precisas. Como Ariane, está irretocável - elogia Maneco.

Fonte: Revista da TV

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